Quem sou eu?

Sou um fotógrafo e educador físico apaixonado por música, poesia e arte. Desde a infância, carrego esses conceitos comigo como fonte de inspiração para tudo o que faço. Sempre tive contato intenso com a arte por forte influência familiar. A fotografia, em especial, anda ao meu lado desde o nascimento. Meu saudoso avô José, que também era meu padrinho, estava sempre com sua câmera a tira colo, e foram dele os registros das primeiras festas que tenho lembrança.  Igualmente apaixonado é o meu tio, que inclusive chegou a improvisar um laboratório em casa para revelar conosco (eu, minhas irmãs e primos) os inúmeros negativos que guardava, que sempre despertaram nosso interesse. 

.

E mais importante: minha mãe. Amante de viagens, dedicou uma boa parte da vida a conhecer diferentes cantos do mundo, sendo a Europa seu roteiro favorito. E com as viagens, sempre vinham inúmeras fotos. E aos poucos foram surgindo em casa novas e melhores câmeras de passeio. Minhas primeiras fotos foram feitas com essas câmeras.


Em 2010 ela foi diagnosticada com câncer de mama, e após um período bastante desafiador no tratamento, viu seu quadro melhorar. Com esta melhora veio a percepção de quão valioso é cada momento que passamos neste planeta. Ela se dedicou mais ainda a saborear as oportunidades que a vida oferece, os lugares, momentos, companhias. Creio que foi nesse momento que adquiriu a Eleanor. É uma Power Shot G12, da Canon.


Infelizmente, no final de 2011 tivemos a notícia de que o câncer não tinha ido embora, e começava a se espalhar. Depois de um ano em tratamento, ela descansou em janeiro de 2013. Não saberia descrever quão difícil foi esse período.


Curiosamente esta era a curva que traria minha estrada até aqui. Herdei a Eleanor. Batizei ela fazendo alusão à música Eleanor Rigby, dos Beatles, banda que minha mãe amava. Fiz muitas fotos com ela sem saber sua real capacidade, no modo automático, apenas apontando e clicando. Gostava de flagrar momentos espontâneos de pessoas distraídas.


Como o mundo dá voltas, em um dia bastante aleatório, atrasado para o trabalho, veio o estalo. Recorri a um trasporte por aplicativo cujo motorista era um jornalista desempregado, que atuava também como fotógrafo de alimentos. Durante a viagem eu pude conhecer o seu trabalho, e ele me contou como havia feito aquelas fotos. Ali foi a primeira vez que ouvi falar em ISO, obturador e diafragma.


Ali me dei conta que a Eleanor me proporcionava tudo isso, e eu jamais havia explorado essas possibilidades. Foi assim que comecei a estudar fotografia, inicialmente como um hobbie. Não tardaria muito para que ela se tornasse o principal instrumento para o exercício da minha missão.

Minha missão

O que eu faço, e por que eu faço?

Nos meus 17 anos atuando em um salão de musculação, tive a oportunidade de conhecer pessoas com as mais diversas histórias. Sempre enxerguei o trabalho em academia como uma forma de promoção da saúde, e nada era mais gratificante do que melhorar a qualidade de vida dos clientes e vencer os diferentes desafios que cada novo aluno trazia consigo.


Nunca fui muito fã das ditaduras da moda, dos modelos veneráveis de imagem e comportamento, e o universo fitness é bastante influenciado por estes conceitos. A ideia de um padrão imposto sempre gerou a sensação de não pertencimento em muita gente. Novo demais, velho demais. Muito magro, ou muito acima do peso. A roupa aceitável do momento não favorece o corpo... Sem perceber, afundamos num ciclo de cobranças e insatisfação, nossa autoestima baixou, potencializamos insegurança e outras questões psicológicas, adoecemos.


Ao tomar consciência deste quadro, eu percebi que o meu trabalho tinha o poder de transformar as pessoas. Que as mudanças que promovíamos eram uma poderosa ferramenta para o aumento da auto aceitação. Comecei a me interessar mais por trabalhar com aqueles que não pertenciam ao grupo “elogiável”. Me fascinava poder participar da transformação daquelas pessoas em especial. E elas eram muitas.


Da mesma forma, com a fotografia eu escolhi adentrar o universo singular das pessoas. Gosto de explorar as individualidades, a poesia única que existe em cada um de nós. Os tais padrões ainda estão por aí, à espreita. Há sempre uma nova forma de nos dizerem que o legal e bonito é aquilo que não somos. Discordo disso. Acho cada pessoa maravilhosa exatamente como é, e percebi que nem sempre conseguimos enxergar dentro de nós a beleza que vemos com facilidade ao olharmos para fora.


Acabei me direcionando para a fotografia feminina por serem as mulheres mais dispostas a lidar com sua sensibilidade, com suas dores e suas virtudes. A construção social ainda poda o homem em sua autonomia emocional, e cobra dele menor vulnerabilidade, o que não favorece a conexão com a proposta do meu trabalho. Acredito que chegará o dia em que essa barreira não mais existirá.


Como homem negro brasileiro, não posso deixar de perceber o quanto esta pressão, este não pertencimento e não validação são mais intensos com pretos e pardos. Eu mesmo venho passando por um processo de reconexão e descobrimento da minha identidade, um resgate da autoestima, para desfazer feridas geradas em meu íntimo pela toxicidade desta estrutura.


Vejo na fotografia uma arma potente para ajudar a mulher negra a resignificar seu olhar sobre si mesma, e para mostrar ao mundo uma visão diferente, de força, beleza, poder, riqueza e de alma. Tudo que o status quo sempre buscou apagar.


Com o meu olhar, busco descortinar a magia que reside nessas mulheres, mas que de alguma forma se esconde também da sua percepção.


Porque todos somos seres divinos e encantadores, e merecemos enxergar em nós mesmos todas as razões para nutrir o mais sincero e intenso auto amor.


Sem ele, qualquer tentativa de doar amor ao próximo é incompleta.